terça-feira, 21 de outubro de 2008
Museu de Língua Portuguesa-Exposição Machado de Assis
No alto
O poeta chegara ao alto da montanha,
E quando ia a descer a vertente do oeste,
Viu uma cousa estranha,
Uma figura má.
Então, volvendo o olhar ao subtil, ao celeste,
Ao gracioso Ariel, que de baixo o acompanha,
Num tom medroso e agreste
Pergunta o que será.
Como se perde no ar um som festivo e doce,
Ou bem como se fosse
Um pensamento vão,
Ariel se desfez sem lhe dar mais resposta.
Para descer a encosta
O outro lhe deu a mão.
SAUDADE.
Por que sinto falta de você? Por que está saudade?
Eu não te vejo mas imagino suas expressões, sua voz teu cheiro.
Sua amizade me faz sonhar com um carinho,
Um caminhar, a luz da lua, a beira mar.
Saudade este sentimento de vazio que me tira o sono
me fazendo sentir num triste abandono, é amizade eu sei, será amor talvez...
Só não quero perder sua amizade, esta amizade...
Que me fortalece me enobrece por ter você.
quarta-feira, 8 de outubro de 2008
CRONOLOGIA DE MACHADO DE ASSIS
1906-Relíquias de Casa Velha (contos e outros)
1904-Esaú e Jacó (romance)
1901-Poesias Completas (poesia)
1899-Dom Casmurro (romance)
1896-Varias Histórias (contos)
1891-Quincas Borba (romance)
1884-Histórias Sem Data (contos)
1882-Papéis Alvussos (contos)
1881-Memórias Póstumas de Brás Cubas (romance)
1878-Iaiá Garcia (romance)
1876-Helena (romance)
1875-Americanas (poesias)
1874-A mão e a Luva (romance)
1873-Histórias da Meia-Noite (contos)
1872-Ressureição (romance)
1870-Falenas (poesia)
1866-Os Deuses de Casaca (comedia)
1864-Crisálias (poesia)
1861-Desencatos (drama)
sábado, 4 de outubro de 2008
Em matéria de Larry Rohter, correspondente do N Y Times no Brasil, intitulada After a Century, a Literary Reputation Finally Blooms (algo como Depois de Um Século Finalmente Floresce uma Reputação Literária), é feito um histórico da vida de Machado de Assis e também são apresentadas opiniões de críticos literários e autores internacionais sobre a obra do Bruxo do Cosme Velho que, gradativamente, vai se tornando universal.
“Quando Joaquim Maria Machado de Assis morreu há 100 anos, sua morte foi pouco ou quase nada noticiada fora do Brasil. Porém, nos últimos anos ele tem sido visto com outros olhos a partir da influência de formadores de opinião de língua inglesa e hoje é aclamado como um gênio injustamente negligenciado.
Susan Sontag, uma das primeiras e fervorosas admiradoras de sua obra, certa vez disse que “Machado de Assis fora o maior escritor jamais produzido pela América Latina”, superando até mesmo Borges. Harold Bloom foi ainda mais longe, dizendo que Machado “era o supremo artista literário negro até então”.
Sua obra é comparável a Flaubert e Henry James, Beckett e Kafka. John Bart e Donald Barthelme o tem como influência literária.
Tudo isso contribui para uma mudança de condição que Machado, com o seu requintado sentido de observação, certamente teria apreciado. Afinal de contas, seu romance mais célebre, “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, pretende ser a autobiografia de um aristocrata decadente refletindo sobre sua vida de decepções e fracassos no além do túmulo.
Em tardio reconhecimento, acontece a Machado 21: A Centennial Celebration, uma homenagem ao autor em New York e New Haven, em que haverá debates, seminários, leituras de seus textos e apresentação de filmes baseados em suas obras.
Harold Bloom o descreve como uma “espécie de milagre”. Nascido no Rio de Janeiro, filho de um pintor de paredes e uma lavadeira açoriana e neto de escravos; Machado foi extremamente culto e autodidata, tendo trabalhado como aprendiz de tipógrafo e jornalista antes de se tornar romancista, poeta e dramaturgo. Eventualmente tornou-se ministro da agricultura e casou-se como portuguesa de ascendência nobre. Foi tradutor de Shakespeare e Victor Hugo, mas por volta dos 40 anos, já sofrendo da epilepsia, sua saúde piorou e quase perdeu a visão. Isto parece que o levou a mudar radicalmente seu estilo, atitude e foco.
Nos vinte e cinco anos seguintes, Machado produziu cinco romances que, de certa forma, estavam interligados e, assim, sua reputação como grande romancista foi criada. Embora os críticos internacionais considerem Memórias Póstumas de Brás Cubas, sua obra-prima, os brasileiros preferem Dom Casmurro, cuja melancolia está centrada no efeito corrosivo do ciúme sexual.
“Como disse um inglês amigo meu, ele é o melhor”, afirma Roberto Schwarz, um dos maiores conhecedores da obra de Machado. “O que você vê nos cinco romances e contos é um escritor sem ilusões, corajoso e cínico, que é altamente civilizado, mas ao mesmo tempo implacável na denúncia da hipocrisia do homem moderno acomodar-se a condições que são intoleráveis. “
Desde o tempo dos filmes mudos, a obra de Machado tem sido uma fonte favorita para cineastas brasileiros. O diretor Nelson Pereira dos Santos recentemente organizou exibições de filmes e adaptações da obra de Machado na Academia Brasileira de Letras, no Rio de Janeiro, que Machado ajudou a fundar em 1897. “Quando você lê Machado de Assis pela primeira vez, ainda na escola, logo se percebe que ele é o capitão de nossa língua, o nosso Shakespeare, um verdadeiro mago das palavras”, disse o Sr. Pereira dos Santos, que está com 80 anos. Mesmo com as enormes mudanças que a sociedade brasileira tem experimentado, Machado se torna atual por que tem a capacidade de captar a essência das relações sociais e de comportamento, muitas das quais são arcaicas, mas que persistem no século 21, o que o torna extremamente relevante.
A semana de comemorações incluem a análise de dois filmes no Lincoln Center, como parte do festival Latinbeat, ambos dirigidos pelo Sr. Pereira dos Santos. “Azyllo Muito Louco” é baseado no romance “O Alienista”, enquanto “Missa do Galo” é uma adaptação de um conto homônimo
Mas o Sr. Pereira dos Santos argumenta que algumas obras de Machado têm sido bem traduzidas para a tela. O motivo, ele defende, é que parte da subtilezado escritor inevitavelmente se perde ou é atenuada quando se leva para as telas.
“É um verdadeiro desafio, devido à ambigüidade e ironia da língua”, disse o Sr. Pereira dos Santos. “E, a menos que você use um narrador, é difícil transmitir essa ambigüidade, através de ações. Então eu nunca tive a coragem de filmar nenhum dos romances, simplesmente porque descobri que essa tarefa é extremamente difícil para outros diretores.”
Muitos escritores que admiram Machado vêem seu trabalho como precursor de algumas tendências literárias do século 20. Allen Ginsberg o descreveu como “um outro Kafka” e Philip Roth vê paralelos entre Machado e Beckett.
“Ele é altamente irônico, um comediante trágico”, disse Philip Roth em entrevista à Folha de São Paulo. “Em seus livros, nos seus momentos mais cômicos, ele destaca o sofrimento, fazendo-nos rir. Tal como Beckett, ele é irônico cerca de sofrimento.”
Outros encontram paralelos com Jonatan Swift e Laurence Sterne. “Ele é diabolicamente engraçado, com uma enorme dívida para com Sterne,” disse o Sr. Bloom a respeito de Machado de Assis, em entrevista telefônica. “Na verdade, ele é tão hilariante, por vezes, que quando eu leio ‘Tristram Shandy, eu posso jurar que Sterne tenha lido Machado.”
Os críticos sabem a razão pela qual a obra de Machado demorou tanto para ser apreciada pelo público de língua inglesa. Harold Bloom acredita que algumas traduções foram “insuficientes”. Novas traduções surgiram a partir da década de 1990, todas feitas por Gregory Rabassa, que também é tradutor de Gabriel Garcia Márquez, Vargas Llosa e Cortázar.
Traduzir Machado “foi muito divertido,” disse o Sr. Rabassa. “Seu Português é fluente, fluido e clássico, provavelmente a melhor prosa jamais feita em Português. Mas ele tinha uma sensibilidade que estava à frente do seu tempo, e talvez até mesmo à frente do nosso tempo; cético, e não um idealista, por qualquer razão.”
Susan Sontag, que escreveu a introdução da tradução de “Brás Cubas” feita por Gregory Rabassa, argumentou que outras desvantagens também abrandaram a aceitação Machado - incluindo a sua escrita a partir da “periferia” da cultura ocidental em um idioma injustamente considerado “menor”.
Na maior parte das vezes, os brasileiros ficam satisfeitos por ver o crescimento do prestígio de Machado de Assis, embora também eles perguntem por que razão levou tanto tempo. E poucos se queixam de que Machado, hoje, sofra uma deturpação pelas comemorações no mundo de língua inglesa.Entusiastas dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha “estão a fazer Machado aparecer cada vez menos como Machado,” disse o crítico e autor Antônio Gonçalves Filho, que argumentou no mês passado em um simpósio em São Paulo. “Na verdade, eles estão fazendo o escritor virar branco, como Michael Jackson. De repente, ele se tornou universal”.
Roberto Schwarz afasta essas preocupações. “É sempre bom para um escritor ser reconhecido”, disse ele. “A Machado é dada a estima que ele merece por causa de sua enorme capacidade de universalizar problemas locais. Brasileiros e estrangeiros talvez venham a vê-lo a partir de ângulos diferentes, mas ele próprio Machado, ele não tem um lado ou o outro, e em ambos é interessante.”
Livre tradução do artigo After a Century, a Literary Reputation Finally Blooms, de Larry Rohter, no New York Times, de 12 de setembro de 2008.
O painel que está no início desse artigo foi pintado por Glauco Rodrigues e está no imperdível e online Espaço Machado de Assis, na Academia Brasileira de Letras.
sexta-feira, 3 de outubro de 2008
Machado de Assis
Biografia
Filho do mulato Francisco José de Assis, pintor de paredes e descendente de escravos alforriados, e de Maria Leopoldina Machado, uma lavadeira portuguesa da Ilha de São Miguel. Machado de Assis, que era canhoto [1], passou a infância na chácara de D. Maria José Barroso Pereira, viúva do senador Bento Barroso Pereira, na Ladeira Nova do Livramento, (como identificou Michel Massa), onde sua família morava como agregada, no Rio de Janeiro. De saúde frágil, epilético, gago, sabe-se pouco de sua infância e início da juventude. Ficou órfão de mãe muito cedo e também perdeu a irmã mais nova. Não freqüentou escola regular, mas, em 1851, com a morte do pai, sua madrasta Maria Inês, à época morando no bairro em São Cristóvão, emprega-se como doceira num colégio do bairro, e Machadinho, como era chamado, torna-se vendedor de doces. No colégio tem contato com professores e alunos e é provável que tenha assistido às aulas quando não estava trabalhando.
Mesmo sem ter acesso a cursos regulares, empenhou-se em aprender e se tornou um dos maiores intelectuais do país, ainda muito jovem. Em São Cristóvão, conheceu a senhora francesa Madamme Gallot, proprietária de uma padaria, cujo forneiro lhe deu as primeiras lições de francês, que Machado acabou por falar fluentemente, tendo traduzido o romance Os Trabalhadores do Mar, de Victor Hugo, na juventude.Também aprendeu inglês, chegando a traduzir poemas deste idioma, como O Corvo, de Edgar Allan Poe. Posteriormente, estudou alemão, sempre como autodidataDe origem humilde, Machado de Assis iniciou sua carreira trabalhando como aprendiz de tipógrafo na Imprensa Oficial, cujo diretor era o romancista Manuel Antônio de Almeida. Em 1855, aos quinze anos, estreou na literatura, com a publicação do poema "Ela" na revista Marmota Fluminense. Continuou colaborando intensamente nos jornais, como cronista, contista, poeta e crítico literário, tornando-se respeitado como intelectual antes mesmo de se firmar como grande romancista. Machado conquistou a admiração e a amizade do romancista José de Alencar, principal escritor da época.
Em 1864 estréia em livro, com Crisálidas (poemas). Em 1869, casa-se com a portuguesa Carolina Augusta Xavier de Novais, irmã do poeta Faustino Xavier de Novais e quatro anos mais velha do que ele. Em 1873, ingressa no Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, como primeiro-oficial. Posteriormente, ascenderia na carreira de servidor público, aposentando-se no cargo de diretor do Ministério da Viação e Obras Públicas.
Podendo dedicar-se com mais comodidade à carreira literária, escreveu uma série de livros de caráter romântico. É a chamada primeira fase de sua carreira, marcada pelas obras: Ressurreição (1872), A Mão e a Luva (1874), Helena (1876), e Iaiá Garcia (1878), além das coletâneas de contos Contos Fluminenses (1870), , Histórias da Meia Noite (1873), das coletâneas de poesias Crisálidas (1864), Falenas (1870), Americanas (1875), e das peças Os Deuses de Casaca (1866), O Protocolo (1863), Queda que as Mulheres têm para os Tolos (1864) e Quase Ministro (1864).
Em 1881, abandona, definitivamente, o romantismo da primeira fase de sua obra e publica Memórias Póstumas de Brás Cubas, que marca o início do realismo no Brasil. O livro, extremamente ousado, é escrito por um defunto e começa com uma dedicatória inusitada: "Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico como saudosa lembrança estas Memórias Póstumas". Tanto Memórias Póstumas de Brás Cubas como as demais obras de sua segunda fase vão muito além dos limites do realismo, apesar de serem normalmente classificados nessa escola. Machado, como todos os autores do gênero, escapa aos limites de todas as escolas, criando uma obra única.
Na segunda fase suas obras tinham caráter realista, tendo como características: a introspecção, o humor e o pessimismo com relação à essência do homem e seu relacionamento com o mundo. Da segunda fase, são obras principais: Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), Quincas Borba (1892), Dom Casmurro (1900), Esaú e Jacó (1904), Memorial de Aires (1908), além das coletâneas de contos Papéis Avulsos (1882), Várias Histórias (1896), Páginas Recolhidas (1906), Relíquias da Casa Velha (1906), e da coletânea de poesias Ocidentais. Em 1904, morre Carolina Xavier de Novaes, e Machado de Assis escreve um de seus melhores poemas, Carolina, em homenagem à falecida esposa. Muito doente, solitário e triste depois da morte da esposa, Machado de Assis morreu em 29 de setembro de 1908, em sua velha casa no bairro carioca do Cosme Velho. Nem nos últimos dias, aceitou a presença de um padre que lhe tomasse a confissão. Bem conhecido pela quantidade de pessoas que visitaram o escritor carioca em seus últimos dias, como Mário de Alencar, Euclides da Cunha e Astrogildo Pereira (ainda rapaz e por isso desconhecido dos demais escritores), ficcionalmente o tema da morte de Machado de Assis foi revisto por Haroldo Maranhão